sexta-feira, 10 de junho de 2011


Manassés

Superando um mau começo.

Era um dia de Ano Novo, em 1929. Duas equipes universitarias estavam jogando, quando um dos defensores recuperou a bola após a falha de um jogador da equipe adversária, correu pela lateral do campo, virou-se, e lançou-se rapidamente por 100 metros na direção errada _ direto para a linha de gol do seu proprio time. Um de seus companheiros o derrubou momentos antes dele marcar gol contra. Na jogada seguinte, a equipe que quase recebeu  o gol de presente bloqueou o chute e marcou gol.

Daquele dia em diante, Riegels foi apelidado de "Riegels Contramão. Durante anos, cada vez que ele era apresentado, as pessoas exclamavam : "Ah, sim. Sei quem é vc! Vc é o camarada que correu na direção errada no estádio."

Pode ser que nossas falhas não chamem tanta a atenção como daquele jogador, mas temos nossos proprios desvios e nossas próprias corridas na contramão. Temos támbem as memórias que as acompanham _ lembranças que voltam para nos insultar e assombrar às três horas da manhã. Há tanto em nosso passado que gostariamos de poder desfazer ou refazer _ tanto que gostaríamos de esquecer. Se ao menos pudéssemos recomeçar.

Louisa Fletcher Tarkington escreveu para todos nós o seu devaneio:

Gostaria que houvesse
algum lugar maravilhoso
chamado Terra de um novo início,
onde nossos erros,
e todos os nossos sofrimentos,
e todas as nossas pobres e 
mesquinhas aflições 
pudessem ser deixadas como uma
velho e gasto casaco, á porta,
para nunca vesti-lo outra vez.

Esse lugar existe e pode ser encontrado na graça de Deus _ uma graça que não somente perdoa nosso passado completamente e o lança fora, mas usa-o para nos fazer melhores do que jamais fomos. "Até do pecado", disse Agostinho, "Deus pode extrair o bem."

A piedosa herança de Manassés.

Manassés era filho de Ezequias, um dos poucos reis de Judá que fez "... o que era reto perante o Senhor" (2 Reis 18:3) e cujo o historiador de Israel nos conta :

[Ezequias] Ele tirou os altos, quebrou as estátuas, deitou abaixo o poste idolo; e fez em pedaços a serpente de bronze que Moisés fizera, por que até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso, e lhe chamaram Neustã. No SENHOR Deus de Israel confiou, de maneira que depois dele não houve quem lhe fosse semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele. Porque se apegou ao SENHOR, não deixou de segui-lo, e guardou os mandamentos que o SENHOR tinha dado a Moisés.(2 Reis 18:4-6)

Ezequias foi responsável por um avivameo espiritual histórico que rejuvenesceu Judá. Ele se livrou dos idolos que seu pai, Acaz, havia adorado, e libertou seu povo da apostasia. Em seu trabalho de reforma, foi grandemente auxiliado pelos ministérios proféticos de Isaias e Miqueias.

Manassés, o filho de Ezequias, subiu ao trono quando tinha 12 anos de idade e reinou por dez anos como corregente de seu pai. Quando tinha 22 anos seu pai morreu e o jovem rei assumiu o governo. Ele reinou por 55 anos _ de 697 a 643 a.C. _ o mais longo reinado da historia, tanto de Juda , como de Israel.

Manassés foi abençoado com um pai piedoso. Viveu em um tempo de vitalidade e prosperidade espiritual. Foi instruído por Isaías e Miqueias, e viu o Senhor, miraculosamente, livrar Jerusalém do cerco dos assírios (2Reis 19:35)

No entanto não seguiu os passos de seu pai.

O fracasso da liderança de Manassés.

As Escrituras relatam que Manassés fez "... o que era mau perante o Senhor, segundo as abonimações dos gentios que o Senhor expulsara de suas possessões de diante dos filhos de Israel " (2 Reis 21:2).

As nações descritas pelo autor eram os depravados e desagradáveis cananitas. Manassés superou todos eles em frenesi insano de quebrar todas as regras - uma loucura descrita nos versos que se seguem:

Pois tornou a edificar os altos que Ezequias, seu pai, havia destruído, e levantou altares a Baal, e fez poste-ídolo como o que fizera Acabe, rei de Israel, e se prostou diante de todo o exército dos céus, e o serviu. Edificou altares a Casa do Senhor, da qual o Senhor tinha dito : Em Jerusalém porei o meu nome. Também edificou altares a todo o exercíto dos céus nos dois atrios da casa do Senhor. E queimou a seus filhos como sacrificio, adivinhava pelas nuvens, era agoureiro e tratava com médiuns e feiticeiros; prosseguiu em fazer o que era mau perante o Senhor, para provocar à ira. Também pôs a imagem de escultura do poste-idolo que tinha feito, na Casa de que o Senhor [...]. Manassés de tal modo fez [Israel] errar, que fizeram pior que as nações, que o Senhor tinha destruído de diante dos filhos de Israel. (2 Reis 21:3-7,9).

Manassés fez "o que era mau perante o Senhor ... "
_ 2 Reis 21:2

Os pecados de Manassés são mencionados aqui em uma ordem crescente de desvios comportamentais. Primeiro ele edificou " os altos que  Ezequias, seu pai, havia destruído". Acaz, o avô de Manassés, havia edificado "os altos" _ bosques no topo de montes onde Asera era adorada. Ezequias os havia derrubado (2 Reis 18:4). Manassés os reedificou.

Manassés "Levantou um altar a Baal", a principal divindade cananeia, e fez um poste-ídolo Asera tal qual a dupla diabólica de Israel, Acabe e Jezabel, fizera (1 Reis 16:32-33). Os postes-ídolos Asera eram imagens de uma divindade feminina, a consorte de Baal que representava a divindade cananeia do sexo e da fertilidade. Os pilares fundados em sua honra eram evidentemente uma espécie de simbolos fálicos (representação do membro viril masculino).
Manassés adorou as hostes dos céus e as serviu. Ele praticou a astrologia oferecendo devoção ao sol, à lua, aos planetas ( ver também Jeremias 8:2; 19:13). Construiu altares às deidades siderais no templo de Jerusalém, onde havia Deus dito: "... porei o meu nome. "

Fez seus filhos passarem pelo fogo _ sacrificio de crianças. De acordo com o autor do livro de Crônicas, " ...queimou a seus filhos como oferta no vale do filho de Hinom." Tambem " ... adivinhava pelas nuvens, era agoureiro, praticava feitiçaria, tratava com necromantes e feiticeiros... "(2Cronicas 33:6). Segundo David Roper, o texto em hebraico sugere que ele fez mais do que consultá-los, ele os nomeou. Em outras palavras, ele concedeu audiências em sua corte e os admitiu em seu gabinete governamental.

Como se isso não fosse suficiente, este pervertido monarca, então, " ...pôs a imagem de escultura do idolo que tinha feito na Casa de Deus ... " (2 Cronicas 33:7).
Ele pegou o poste-idolo mencionado anteriormente, dedicado a tudo que era feio e obsceno, e colocou no Santo dos Santos, no templo do Senhor.

Manassés foi o unico responsável
por derrubar uma nação inteira.

Em nehuma parte é feita uma alusão ao culto de Jeová. Manassés selecionou seu panteão das culturas que cercavam Israel _ dos amoreus, cananeus, filisteus, fenicios _ mas não há referencias ao Deus que se revelara a Israel.

O historiador concluiu: "Manassés de tal modo fez [Israel] errar, que fizeram pior do que as nações que o Senhor tinha destruido de diante dos filhos de Israel" (2 Reis 21:9)

Compreenda o que está sendo dito aqui: Manassés foi o único responsável por derrubar uma nação inteira. Que legado a se deixar!

E isso não é tudo. Há uma nota de rodapé que é terrivel em suas implicações:


Alem disso, Manassés derramou muitíssimo sangue inocente, ate encher Jerusálem de um ao outro extremo, afora o seu pecado, com que fez pecar a Judá, praticando o que era mau perante o Senhor (2 Reis 21:16)


Manassés silenciou os profetas com uma fúria aterrorizante. Josefo, um historiados judeu, registrava que Manassés "matou todos os homens justos que havia entre os hebreus, e tampouco poupou os profetas, pois cada dia matava alguns deles, ate que Jerusalém estava transbordando de sangue".


Existe uma tradição judaica relatada no Talmude que conta como Manassés colocou seu velho professor, Isaías, em um tronco e o serrou em dois. Este é possivelmente o pano de fundo da afirmação no livro de Hebreus de que Hérois de Deus foram "... serrados ao meio..." (Hebreus 11:37).


O restante da história
Quanto aos mais atos de Manassés, e a tudo quanto fez, e ao seu pecado, que cometeu, porventura, não estão escritos no livro da História dos Reis de Júda? Manassés descansou com seus pais e foi sepultado no jardim da sua propria casa, na jardim de Uzá; e Amon, seu filho, reinou em seu lugar (2 Reis 21:17-18).
Eis aqui algo curioso: Manassés fez o que era mal perante o Senhor por 55 anos, entregou-se a todas as paixões carnais, corrompeu e arruinou uma nação inteira, e Deus não tomou providencia alguma.

Ou tomou?

Normalmente, vemos somente um aspecto de Deus _ Sua generosa paciência: "[Ele] se detém, para se compadecer de vós" (Isaias 30:18). Existe, porém, outro lado: Sua estranha forma de julgamento.

A história relatada nos livros de Reis não está completa. O propósito de 1 e 2 Reis é traçar o declínio de Israel e Judá ao exilio babilônico e mostrar os motivos para tal acontecimento. As histórias são necessariamente resumidas. O escritor se detém apenas nos fatos que contribuem para o seu tema. O relato do reinado de Manassés é retomado e suplementado em 2 Crônicas 33. O propósito do escritor das Crônicas era diferente. Seu tema era a restauração do trono Davídico. Para este fim ele selecionou eventos que contribuíam para esse motivo e incluiu alguns fatos omitidos no livro de Reis.

Os primeiros nove versos de 2 Crônicas 33 são basicamente uma cópia de 2 Reis 21:1-9 com algumas pequenas mudanças, em seguida uma nova história emerge:

Falou o Senhor a Manassés e ao seu povo, porém não lhe deram ouvidos (2 Crônicas 33:10). 
Deus tem muitas maneiras de nos livrar do pecado.

O julgamento de Deus não sobrevém precipitadamente. Jamais ocorre dessa maneira. O téologo John Piper disse, "A ira [de Deus] precisa ser liberada por um forte cadeado de segurança, mas Sua misericordia responde ao menor estímulo." Deus nos ama demais para desistir de nós. Ele nos persegue _ até mesmo ao lugar de nosso pecado e culpa _ e insiste para voltarmos.

Um velho provérbio turco diz que Deus tem "pés de lã e mãos de aço". Podemos não ouvi-lo se aproximar, mas porém, quando Ele põe Suas mãos em nós é impossivel nos livrarmos delas. O outro lado da promessa "...não te deixarei, nem te desampararei" (Josué 1:5) é a garantia de que Ele nunca nos abandonará. Ele vai nos perseguir, aborrecer, incomodar, importunar e provocar até cedermos.

Deus tem muitas maneiras de nos livrar do pecado, ás vezes por um toque em nossas almas; as vezes pela palavra dita por um amigo; as vezes, pelo relato de um acontecimento; ou por um livro, um  sermão, um encontro ao acaso. E assim, Deus nos pede que voltemos a Ele.

Lembro-me de um estudante que encontrei na Universidade de Stanford, EUA, há alguns anos. Ele estava sentado nun banco em frente a uma igreja Memorial, lendo um jornal. Sentei-me ao seu lado, e começamos a conversar. 

A conversa foi bem até que se voltou para o assunto de seu relacionamento com Deus.

Ele se colocou em pé, com uma praga, e se afastou arrogantemente. Então, parou, e se virou. "Perdoe-me", disse ele. "Fui criado em um lar cristão. Meus pais são missionários presbiterianos em Taiwan, mas fugi  de Deus a minha vida inteira. No entanto, aonde quer que eu vá alguem quer falar comigo sobre Deus."

Mais do que qualquer outra coisa, Deus quer que nos entreguemos ao Seu amor. "O amor nos cerca", disse George MacDonald, "procurando qualquer brechinha por onde possa penetrar." Deus espera incansavelmente e o seu amor é inabalável. Entretanto, se não o quisermos, Ele nos deixará seguir por nossos proprios caminhos e permitirá que colhamos as consequências de nossa resistência. Mesmo isso, porém, é para o nosso bem. é o julgamento libertador de Deus. Ele sabe que quando os ventos frios sopram, eles podem nos fazer mudar de ideia.

Pelo que o Senhor trouxe sobre eles os principes do exército do rei da Assíria, oa quais prenderam Manassés com ganchos, amarraram-no com cadeias e o levaram à Babilônia. Ele, angustiado, suplicou deveras ao Senhor, seu Deus, e muito se humilhou perante o Deus de seus pais; fez-lhe oração, e Deus se tornou favorável para com ele, atendendo-lhe a súplica e o fez voltar para Jerusalém, ao seu reino; então, reconheceu Manassés que o Senhor era Deus (Crônicas 33:11-12).
O rei assírio aqui mencionado era provavelmente Esaragon, o filho de Senaqueribe. Esaragon colocou um anel na nariz de Manassés, algemas em suas mãos e pés, e o levou marchando para a Babilônia, onde Manassés definhou em uma masmorra por 12 anos. Uma argola no nariz era a maneira assírica de humilhar os reis conquistados, um costume ilustrado claramente nos artefatos assíricos. Que completa humilhação! Que terrivel ruína! Tudo, porém, para trazer Manassés de volta a Deus.

Quebra gelo 
Ja te aconteceu algo que você disse ou fez que mais tarde voltou a assombrá-lo?
Você se sentiu constrangido, triste ou bravo a respeito? Como você vê isso hoje?

Reflexão
O que Agostinho quis dizer quando falou:
"Ate do pecado, Deus pode tirar o bem"?
Você concorda ou discorda?
Como esta questão é trabalhada em sua vida?

Considerando a criação de Manassés e o que ele se tornou, você concorda ou discorda que uma herança divina não é garantia para alguém se tornar bom?

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